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Entrevista com Giorgios Marinos, membro do Buró Político do Comitê Central do KKE, responsável por relações internacionais e membro do Parlamento à Revista Opera (Brazil)

1 – Como vocês veem a recente eleição do Syriza? Eles conseguirão resolver as necessidades dos trabalhadores gregos?


Na nossa avaliação, a substituição do governo de ND-PASOK pelo governo do SYRIZA-ANEL não pode ajudar na satisfação das necessidades do povo hoje. E a razão disso é o fato do novo governo, como o anterior, apesar de seus slogans "de esquerda", opera com a mesma estrutura: a participação do país na União Europeia e OTAN, a implementação de compromissos com essas uniões imperialistas, o reconhecimento do insuportável estado de dívida pelo qual o povo não é responsável, o apoio à rentabilidade dos interesses imperialistas em nome da "competitividade da economia nacional".

Então o programa do novo governo só busca a administração do fenômeno da extrema pobreza, enquanto ao mesmo tempo essa situação insustentável continuará para a maior parte do povo, já que as causas dos problemas do povo continuarão intactos. Essas causas colocam-se na própria natureza do capitalismo.

 

2 – O KKE ofereceu ao Syriza alguma aliança? Se sim, quais eram as condições para o acordo?


A vida tem demonstrado que coligações de partidos cruamente reunidos em nome da esquerda e intenções de administrar melhor o capitalismo não servem aos trabalhadores. A experiência na Grécia e internacionalmente, em nossa visão, demonstra que governos de "centro esquerda", "progressistas" ou "de esquerda" sob o escopo do capitalismo (como a Itália, Chipre, Brasil, etc.) também tomaram medidas anti-povo, não foram capazes de evitar as consequências da crise capitalista e participaram activamente em guerras imperialistas. Esses governos agravaram a desilusão entre os trabalhadores, enfraqueceram o movimento de trabalhadores e em cada caso constituíram uma "ponte" para mais políticas de direita.

Nosso partido de uma maneira muito oportuna excluiu a possibilidade de participar ou de apoiar o governo "de esquerda" do SYRIZA, que promete a existência de uma administração a favor o povo dentro do capitalismo e das uniões imperialistas. De nossa parte, não participamos na difusão de tais ilusões e colocamos algumas "condições" para o SYRIZA, porque está óbvio que temos uma posição diametralmente diferente: o SYRIZA busca a humanização do capitalismo, o KKE busca a sua derrubada e a construção de uma outra sociedade. No entanto, nós promovemos a nossa proposta política, que em resumo se trata de: cancelamento unilateral da dívida, desligamento da União Europeia e da OTAN, socialização dos meios de produção, planificação central da economia, e o poder do povo e dos trabalhadores.

Eu devo notar que o KKE tem sua própria visão sobre os tipos de alianças que o país necessita. Nós traçamos a linha de formar uma aliança do povo, composta por forças sociais, a classe trabalhadora, os camponeses pobres e médios, as camadas pequeno-burguesas urbanas, cujos interesses estão em conflito com os monopólios e o capitalismo. Essa aliança, que hoje tomou seus primeiros passos, está lutando pela concentração de forças com o objectivo de trilhar o caminho para a construção de uma nova sociedade socialista-comunista.

 

3 – O Syriza recentemente fez um acordo com o partido de direita "Gregos Independentes". Como vocês vêem esse fato? Isso era necessário? Por quê?


Isso não nos surpreendeu. Antes das eleições nós havíamos avaliados que se o Syriza não conseguisse uma maioria absoluta no Parlamento, ele iria formar governo com um dos partidos que, como o Syriza, querem que a Grécia continue na União Europeia e na OTAN. Nós estamos falando dos partidos que consideram que o povo deve pagar a terrível dívida pela qual eles não são responsáveis e que apoiam o desenvolvimento por meio do capitalismo. Apesar de haver outros partidos burgueses, de várias outras matizes, que estavam ansiosos para colaborar com o Syriza no governo, o Syriza escolheu a cooperação com a ANEL (Gregos Independentes), uma cooperação que começou há algum tempo.

 

4 – Parece que o Syriza não vai lutar contra as sanções da UE e dos EUA contra a Rússia. Eles apoiaram a extensão dessas sanções recentemente. Qual é a visão do KKE nesse assunto?


A postura do governo em relação à questão da Ucrânia, apesar do barulho, durou apenas três dias. No quarto dia, o governo grego se alinhou à UE e votou pelas mesmas sanções contra a Rússia que haviam sido votadas pelo governo anterior do ND-PASOK, deixando a porta aberta para outras sanções em um futuro próximo. Nós devemos lembrar que eles haviam criticado a postura do governo anterior nessa questão.

Em nossa avaliação, as sanções contra a Rússia significam a escalada da intervenção da UE e dos EUA na Ucrânia, no âmbito da sua competição com a Rússia pelo controle dos mercados e dos recursos enérgicos da região.

A guerra da troca entre a UE e a Rússia antes de tudo está flagelando a classe trabalhadora e os estratos populares, como os pequenos e médios agricultores na Grécia. Essa é uma guerra comercial que busca o beneficiar os interesses dos monopólios.

A nova decisão da UE, com a participação da esquerda grega, confirma mais uma vez o carácter reaccionário e imperialista da UE, que ataca os povos da Europa e desempenha um papel de liderança nos planos imperialistas para servir os interesses do capital da União Europeia.

O KKE constantemente argumenta que o povo grego deve denunciar a postura do governo da Grécia e exigir que não haja participação grega nos planos da OTAN e da UE.

 

5 – Nós temos visto o crescimento de organizações fascistas e neonazistas pela Europa. Na Grécia, há o Aurora Dourada. Nas últimas eleições eles conseguiram cerca de 6% dos votos. Se o Syriza falhar em resolver os problemas da Grécia, haverá um maior crescimento do Aurora Dourada?


É verdade que o partido neonazista e criminoso "Aurora Dourada", que tem actividade homicida e foi criado pelos mecanismos do sistemas, mantém um alto percentual nas eleições, apesar das perdas que ele teve em votos.

Tanto o governo do ND-PASOK, que promoveu o anti-comunismo, a teoria dos dois extremos, o bode-expiatório dos imigrantes, quanto a linha "anti-memorando" promovida pelo SYRIZA, que inocenta os oponentes reais do povo, os capitalistas, têm responsabilidade particular pela percentagem eleitoral do Aurora Dourada. Essa organização criminosa fascistas especifica se desenvolveu nesse terreno político e ideológico.

O KKE continua como um inabalável oponente do fascismo, precisamente porque o KKE se opõe ao capitalismo como um todo, o sistema que cria o fascismo, o nacionalismo e o racismo.

A frustração frente as expectativas cultivadas por forças social-democratas, como o SYRIZA, pode facilitar a actividade do Aurora Dourada junto a sectores politicamente atrasados do povo. No entanto, nós avaliamos que nosso povo tem a força para rejeitar e isolar a actividade nazista criminosa e a ideologia do Aurora Dourada. Ele tem a experiência histórica e a memória da Segunda Guerra, da vitória antifascista. É um dever e uma necessidade, especialmente no caso da juventude e nas escolas, que professores, artistas e cientistas na sociedade exponham mais frequentemente, lutem contra e impeçam o veneno do nazi-fascismo. Os movimentos do povo e dos trabalhadores devem fortalecer sua luta contra o nazismo e sua actividade criminal, contra o sistema e os interesses que criam e sustentam essas formações.